Tirocínio Docente

Apresentação

Questionamos se a formação para a docência universitária de fato se resume ao mero treinamento didático. Tal questão nos parece importante à medida que levamos em conta a inaudita expansão do número de vagas no Ensino Superior no Brasil e, concomitante a esta, a crescente demanda por novos docentes para atuarem nesse nível de ensino. Se, por um lado, acreditamos que o Estágio de Docência tem potencial para contribuir com aformação profissional para a docência, por outro, entendemos que tal formação não se resume a treinamento didático. Tampouco ocorre automaticamente e em decorrência das habilidades de investigação que o pós-graduando adquire no mestrado ou no doutorado. E por que não? Isso se explica em razão da complexidade da atividade docente, a qual demanda saberes específicos, assim como mantém sua complexidade independentemente da área específica à qual o professor se vincula e atua, seja ela a pedagogia, a enfermagem, a história, as engenharias, etc. Por isso mesmo, ser professor requer construção ininterrupta de saberes e fazeres, posto que a sua atividade é permeada por condicionantes sociais, culturais, políticos, institucionais, profissionais e pessoais. Consideramos, nesse sentido, que se torna necessário trazer para um primeiro plano a formação e o desenvolvimento profissional de professores, aí investindo como tarefa urgente a universidade e, no interior desta, a Pós-Graduação stricto sensu. É possível considerar que a exigência por parte da CAPES de que os programas contemplem o Estágio de Docência é, de certo modo, um passo para isso. No entanto, tal iniciativa precisa ser amplamente discutida, melhor entendida e empreendida. Reiteramos que diante da complexidade da nossa época e da profissão docente, em especiala docência universitária, a formação do professor do Ensino Superior torna-se urgente, tanto a formação inicial como a contínua, num processo de desenvolvimento profissional. Nesse sentido, discussões realizadas no âmbito da pedagogia universitária podem contribuir para a construção de saberes e fazeres docentes, na medida em que oferecem elementos para se pensar e redimensionar a formação do professor formador de outros profissionais. Assim sendo, está posta a relevância de os pesquisadores em Educação fomentarem mais discussões e debates sobre o assunto, em especial versando sobre a contribuição do Estágio de Docência para a aprendizagem da docência universitária, um dos temas de interesse da Pedagogia Universitária. Por fim, não estamos aqui desconsiderando que desde a sua criação no Brasil a Pós-graduação stricto sensu vem dando ênfase, preferencialmente, à formação do pesquisador, tendo em vista o desenvolvimento científico-tecnológico. Reconhecemos que, em razão dessa valorização da pesquisa, uma menor atenção tem sido dada à preparação do pós-graduando para o magistério no ensino superior. Todavia, romper com essa herança histórica nos parece ser um esforço que precisa ser assumido tanto pela CAPES como pelas universidades brasileiras, seus Programas de Pós-Graduação e atores envolvidos no processo. Combinar docência e investigação, principais funções do professor universitário, põe-se, certamente, como o desafio maior.

Renata de Almeida Vieira (FONTE)


Relatos

Fazer o tirocínio em uma disciplina majoritariamente prática, com objetivo de construção e divulgação de produtos midiáticos voltados para a educação, onde observei a maior parte dos dias e ministrei 3 aulas, me possibilitou compreender do planejamento à vivência da disciplina, e a importância das teorias de gênero e diversidade nas produções de mídias. Por isso produzir um flyer, panfleto, cartilha ou outros elementos digitais, com um conteúdo qualificado e teoricamente embasado, abre caminhos para que a informação teórica dialogue com a mídias e extrapole os muros da academia, o que significa pensar na atualidade e nos públicos que tem ou não acesso as teorias.

Shirlei Santos de Jesus Silva – Tirocinista da disciplina Produção de Mídias em Gênero e Sexualidade (2018.1)

 

O meu tirocínio docente foi realizado no componente História das Mulheres e Gênero com conteúdo sobre Violência contra a Mulher. Foi uma experiência bastante enriquecedora para a minha pesquisa, com grande contribuição para a minha formação, em especial para a minha constituição enquanto docente universitário.

Elder Luan Santos Silva – Tirocinista da disciplina História das Mulheres e Gênero (2018.2)

 

Na ocasião do meu tirocínio docente acompanhei o curso “Introdução a Antropologia do Gênero”, que apresentou uma introdução aos estudos de gênero na perspectiva antropológica, focalizando as principais teorias de gênero, sua história e aplicação. Pude pensar a disciplina em parceria com o meu orientador desde o seu início, compartilhamos as aulas ministradas por ele com muita sintonia, eu intervia quando percebia que poderia contribuir para a discussão, tanto quanto era inserida nas dinâmicas das aulas a partir das estratégias pedagógicas do docente. Conduzi aulas sobre: o que é antropologia e as tendências do pensamento antropológico, com foco para a antropologia clássica; antropologia feminista; e apresentei e discuti minha pesquisa de dissertação de mestrado com os alunos. Posso destacar três pontos altos da disciplina como espaço de tirocínio docente, o fato de aprender estratégias pedagógicas a partir do método do docente e do seu cuidado em apresentar-me estas estratégias e diferenciar palestra e aula. Os jogos pedagógicos utilizados por Felipe foram muito potentes no processo de aprendizado dos alunos, no meu aprendizado de antropologia e sobre outras pedagogias que valorizam a construção coletiva do conhecimento de maneira lúdica. Acompanhar as escritas dos diários de campo pelos alunos e do trabalho etnográfico final foi enriquecedor, tanto quanto participar da avaliação dos trabalhos. E, finalmente, acompanhar o processo de pedido e entrada em licença maternidade de uma estudante da turma que chegou ao final de sua gestação no meio do semestre. Pude acompanhá-la via moodle, skype, troca de e-mails e comunicação via telefone celular. A estudante lia os textos em casa, compartilhava fichamento, questões relevantes, articulações com outros textos e temas de seu interesse, e suas dúvidas, que eram prontamente respondidas através do canal que estivesse mais acessível e confortável para ela em cada momento. Garantir que ela concluísse o semestre tendo direito a licença maternidade e também a uma formação de qualidade foi pedagógico e importante politicamente para minha experiência profissional.

Naiara Maria Santana dos Santos Neves – Tirocinista da disciplina Introdução à Antropologia do Gênero (2018.1)

 

Eu fiz o tirocínio docente no Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade em duas disciplinas: Gênero e Direitos Humanos (Salete Maria) e Introdução à Antropologia do Gênero (Felipe Fernandes). Posso sintetizar a minha experiência neste sentido em três aspectos. O primeiro foi a disponibilidade dxs docentes em me inserir na dinâmica das aulas, mesmo antes de iniciarem as aulas. Tanto pela disponibilização atempada dos materiais de apoio, como de uma avaliação breve no final de cada aula – eu e o docente. Pretendíamos ajustar, caso fosse necessário, a forma de ministrar a disciplina, visando sobretudo assegurar maior interação da turma com os textos e outros questionamentos teóricos. O segundo tem a ver com o estar em sala de aula, em contato direto com xs estudantes, para mim foi desafiador, na medida em que, ao longo das aulas surgiam questões tensas, que eu as vezes ficava assustada, mas fui aprendendo com xs docentes a melhor forma de gerir estes casos, afinal, era também uma forma de interagir com os textos que estavam em análise, então foi sendo cada vez mais tranquilo lidar e aprender com estas situações. Obviamente que o fato de ter alguma autonomia na sala, aumentava a minha responsabilidade. Finalmente, fiquei muito feliz por ter podido participar do planejamento e acompanhamento dos exames finais de avalição dxs estudantes. Aprendi bastante com xs docentes, incluindo o processo de correção final dos citados testes, em que a avaliação contínua, a participação, a leitura e compreensão dos textos e a presença em sala de aula tinham um papel fundamental, mas também, a interação em cada dia de aula. Portanto, foi um grande aprendizado, que fugiu daquele modelo tradicional cristalizado que se estabelece entre estudante e docente, o que em meu entender possibilitou trabalhar muito a dimensão do humano, para além do técnico/profissional. Afinal, eu entendo que para termos bons/boas profissionais, é fundamental valorizar o humano, antes de tudo.

Florita Cuhanga António Telo – Tirocinista da disciplina Introdução à Antropologia do Gênero e Gênero e Direitos Humanos (2016.1)


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