Assassinatos de pessoas LGBT na Bahia (2014): Dinâmicas de gênero raça e classe na violência letal homofóbica
Nascida em Salvador, licenciada em História pela UNIJORGE e Bacharela em Estudos de Gênero e Diversidade pela UFBA.
Nos últimos anos, os crimes contra a população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero (LGBT) vêm aumentando consideravelmente no Brasil, chamando a atenção de pesquisadores e coletivos de luta contra a homofobia. A violência explicita contra a população LGBT indica a falta de política pública, principalmente a criminalização da homofobia. Os dados mostram que os crimes raramente, ou nunca, são associados à homofobia, indicando que essa população não é percebida na sua especificidade. O presente trabalho apresentará como resultado uma análise dos assassinatos de pessoas LGBT ocorridos na Bahia em 2014, baseado no trabalho de campo junto ao Grupo Gay da Bahia (GGB) e de monitoramento do site “Quem a homotransfobia matou hoje”, cujo objetivo é identificar as regularidades e tendências desses “homicídios”, fornecendo pistas para a comunidade LGBT evitar situações de risco e para o poder público implementar políticas públicas que garantam a segurança dessa população.
Transcrição do Áudio:
De janeiro a maio de 2019, ocorreram no Brasil, 143 assassinatos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil. São Paulo foi a cidade com o maior número de casos, contabilizando 22 vítimas, seguido da Bahia, com 16.
Todos os dias, pessoas LGBTs são vítimas de crimes brutais, mas esses crimes não são divulgados nos meios de comunicação convencionais. Meu nome é Sônia, Bacharela em Estudos de Gênero e Diversidade pela UFBA e minha monografia foi sobre assassinatos de pessoas LGBT na Bahia no ano de 2014, onde analisei as dinâmicas de Gênero, Raça e Classe na Violência Letal Homofóbica. O trabalho foi construído com base nos dados obtidos junto ao Grupo Gay da Bahia (GGB) e no monitoramento do site “Quem a homotransfobia matou hoje”. A violência letal começou a ser documentada no país através da ação pioneira do GGB, sob a liderança do antropólogo Luiz Mott, no início dos anos 80. As agressões explícitas contra a população LGBT indicam a invisibilidade social das vítimas e a falta de políticas públicas visando sua proteção. Os crimes raramente são associados à homofobia, deixando claro que essa população não é percebida na sua especificidade. De acordo com minha pesquisa, o perfil racial e a classe social das vítimas são determinantes não apenas no modus operandi, mas também na resolução dos crimes. As travestis e transsexuais, na sua maioria negras, sem profissão reconhecida socialmente, moram na periferia das grandes cidades e geralmente são assassinadas em via pública, por apedrejamento, facadas e espancamentos, deixando as vítimas desfiguradas. Já os gays, na sua maioria brancos e/ou pardos, possuem profissões reconhecidas socialmente como “normais” e moram em bairros de classes média e alta. São mortos geralmente em casa, com arma de fogo e estrangulamento/asfixia. Os marcadores sociais de raça, classe e gênero, ficam evidentes desde a abordagem policial, passando pelo tratamento dispensado a esses corpos, até a resolução dos crimes. Assim, os crimes também são resultado da homofobia institucionalizada, e representam um continuum de violências, desde pequenos atos discriminatórios que não são punidos ou questionados, mas, ao contrário, há uma conivência social com a homolesbotransfobia. Em 2014 foram 25 mortes de LGBT na Bahia. Destas, uma foi suícidio, dezessete foram gays, cinco trans e duas lésbicas. O menor número de trans e lésbicas indica subnotificação, ou seja, os crimes ocorrem mas não são registrados, indicando a invisibilidade de trans e lésbicas em relação aos gays. Apenas 5 foram solucionados e os demais continuam sem respostas. Esta pesquisa propõe um debate sobre a violência letal contra pessoas LGBT ao mesmo tempo em que busca dar visibilidade a esse tipo de violência, já que o tema é pouco debatido na sociedade como um todo e cujas vítimas são alvo de crimes brutais.
Fórum Gira: Encontro de Pesquisadoras e Pesquisadores do Grupo de Estudos Feministas em Política e Educação da UFBA
ISSN 2675-2948
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