Círculo de Cidadania – Salvador
Os círculos de cidadania surgiram no começo de 2015 para movimentar lutas cidadãs e propiciar um espaço inclusivo a quem não se sente representado pelas instituições existentes, partidos, empresas ou sindicatos. Surgiram em meio ao desencanto pela política, falsas polarizações e crescente indignação diante da perda de direitos, da corrupção sistêmica e da crise em seus vários aspectos. Todos, mesmo quem nunca participou de coletivos assim, precisam sentir-se à vontade para falar, dissentir e decidir. Não é cobrada carteirinha, não há dogmas e nenhum assunto pode ser tabu, evitando-se repulsas cúmplices ou deboches sorrateiros devido às diferenças e/ou identidades.
Fala-se “círculos”, no plural, porque os métodos são variados, assumindo em qualquer caso a autonomia de organização e a interdependência entre si. Os círculos não funcionam com instância central que, mediante análise de conjuntura, baixa uma linha sobre os participantes, que passam a ser cobrados nela; em vez disso, os círculos se orientam por ações em diferentes espaços e temporalidades. Se determinada ação der certo, tudo bem; se não der, tudo bem também, tenta-se de novo, de outra maneira. Os círculos se apoiam numa demanda difusa porém bastante palpável, de uma geração de pessoas que deseja e pratica uma nova maneira de se organizar e viver. Questiona-se não só a pertinência de dirigentes fixos, como também de “trabalho de base”, porque todos somos as bases vivas deste projeto de construção.
Durante meses, foi realizado quase uma centena de ações, entre encontros, debates, feiras, cineclubes, oficinas de autoformação, mídias, textos, abaixo-assinados, traduções, campanhas e apoios. Nosso tumblr traz fotos e uma seção FAQ (http://circulocidadania.tumblr.com/) e nossa página no facebook muitos outros conteúdos. A partir do círculo inicial do Rio de Janeiro, formaram-se do tipo “territorial”, como do Bairro de Fátima e Largo do Machado, círculos “temáticos”, como o Laranja (protagonistas garis, deu grande força motriz a toda a plataforma), Branco (saúde) e Vermelho (bombeiros), e círculos do tipo “confluência”, como o Cidade que Queremos. A experiência se disseminou para Salvador, São Paulo e Porto Alegre, com iminente organização também em São Gonçalo e Belo Horizonte.
O tempo é de ousar e podemos experimentar modos novos, recompositivos, colaborativos, sem deixar de problematizar continuamente o risco de recair nos velhos vícios, da verticalidade mal-disfarçada ou de uma horizontalidade mistificada, do produtivismo cego ou de um processismo que não gera resultado, do institucionalismo que engessa ou do movimentismo que se dispersa. É preciso um esforço sustentado para metabolizar a mudança além do nível do querer: atingindo o gesto, a cristalização dos afetos em hábitos democráticos. Seguimos na reinvenção…