Carta de Paris, por Mônica Benício (Paris, setembro de 2019 – PT e FR)
Carta de Monica Benício lida pela ativista e historiadora Stéphanie Palancade em razão da inauguração do Jardim Marielle Franco pela Prefeitura de Paris em 22 de setembro de 2019.
À Marielle Franco todas as homenagens e nenhum minuto de silêncio.
Já são um ano e seis meses desde o assassinato político da vereadora Marielle Franco, minha companheira. São 556 dias e tenho contabilizado publicamente cada dia sem respostas e sem justiça para esta barbárie e dedicado a minha vida à construção do mundo pelo qual ela sempre trabalhou, um mundo de justiça social, antirracista, com equidade de gênero e respeito às vidas LGBTQIA+ e aos direitos humanos. Quando as forças criminosas que hoje ameaçam a democracia brasileira dirigiram sua violência injustificável contra Marielle, gostariam de espalhar medo e incitar nosso recuo. Porém, não poderiam contar com o tamanho de nossa coragem e de tudo que ela significa. A lembrança de sua luta e sua vida no dia de hoje, aqui em Paris, nesse importante ato de inauguração de um jardim que levará agora seu nome, é um sinal de que seguiremos espalhando pelo mundo o seu nome como sinônimo de força e beleza, como o chamado para a resistência contra as forças da brutalidade e do ódio que hoje elegem presidentes no Brasil. Escrevo no plural porque tenho certeza de que esta é uma construção coletiva, feita por muitos braços e corações que têm me ajudado a seguir diante de tamanha violência e fortalecido uma rede global de solidariedade e ação. Para além disso, é importante lembrar que se hoje são também minhas as palavras que acolhem e ampliam essa luta, é porque meu encontro de vida com Marielle teve de ser reconhecido a contragosto das vozes que insistem em negar e invisibilizar um amor entre mulheres como o nosso, confrontado com muitos obstáculos para ser plenamente. Por isso destaco que falar enquanto esposa de Marielle, enquanto mulher lésbica, é falar também pela afirmação do amor entre mulheres como motor da mudança e grito por nosso direito de ser e amar. É por esse amor que jamais deixarei que seu nome seja esquecido, por ele que meus punhos se erguem em luta e convite a todas e todos para que se engajem na construção de outro horizonte, mais justo e feliz – onde caibam nossos sonhos e nossos afetos, onde caiba o futuro e a esperança, onde caibam todos os amores e onde todas as vidas importem. Obrigada pela linda homenagem. A França desde a v noite de dor do 14 de março de 2018 sempre acolheu a imagem de minha esposa com carinho, solidariedade e amor. A luta de Marielle hoje é também a minha – e que seja a de vocês, em cada espaço ocupado, em tudo que for possível fazer e realizar, em cada organização e enfrentamento, porque nós não seremos interrompidas: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira”. Que esse jardim aqui em Paris seja símbolo da primavera da revolução que segue em curso e não poderá mais ser detida.
Muito Obrigada.
Com grande carinho.
Monica Benicio
Pour Marielle Franco il faut tous les hommages et aucune minute de silence
Déjà une année et six mois depuis l’assassinat politique de la conseillère Marielle Franco, ma compagne.
En tout 556 jours et je fais le décompte chaque jour publiquement, 556 jours sans réponse et, sans justice pour cette barbarie.
Je dédie ma vie à la construction d’un monde pour lequel elle a tant travaillé. Un monde de justice sociale, sans racisme, où l’égalité de genre et le respect pour les vies des personnes LGBTQI+ et pour les droits humains ont toute leur place.
Quand les forces criminelles, qui aujourd’hui ménacent la démocratie brésilienne, ont dirigé leur violence injustifiable contre Marielle, elles espéraient, avec ça, faire gandir la peur et nous faire reculer.Cependant, ils n’avaient pas imaginé la taille de notre courage et de tout ce qu’il signifie.
Le souvenir de sa lutte et de sa vie, aujourd’hui ici à Paris, avec cet acte important: l’inauguration d’un jardin qui maintenant porte son nom est un signal pour dire que nous allons continuer à diffuser, partout dans le monde, son nom comme synonyme de force et de beauté. Comme un appel à la résistance contre les forces de la brutalité et de la haine qui, aujourd’hui élisent les présidents du Brésil.
J’écris au pluriel parce que je suis sûre que tout cela est une construction colective, élaborée par beaucoup de bras et de coeurs qui m’ont aidé à pousuivre, malgré le poids de la violence, et qui m’ont aidé à construire une chaîne globale, renforcée par la solidarité et l’action.
Et puis, il est important de se souvenir que si aujourd’hui ces paroles et ces idées qui accueillent et fortifient cette lutte, sont aussi les miennes, c’est parce que ma rencontre de vie avec Marielle devaient être reconnue malgré les voix qui ne voulaient pas nous accepter et qui voulaient rendre invisible un amour entre femmes. Mais c’est vraiment, impossible; un amour entre deux femmes, comme le nôtre, avec tant de difficultés, doit être vécu pleinement.
Et c’est pour cela que je veux parler, parler comme l’épouse de Marielle, parler comme femme lesbienne ! Et parler ainsi renforce l’affirmation que l’amour entre les femmes est un moteur de changement et un cri pour notre droit d’être, et d’aimer. C’est pour cet amour que je me bats pour que jamais son nom ne soit oublié. C’est pour lui que mes poings se lèvent en signe de lutte. Et je vous invite toutes et tous à nous engager dans la construction d’un autre horizon, plus juste et plus heureux où tous nos rêves et nos affections y ont leur place, où l’avenir et l’espoir sont présents, où tous les amours et toutes les vies importent.
Je vous remercie infiniment pour cet hommage. La France, depuis la nuit de douleur, le 14 mars 2018, a toujours accueilli l’image de mon épouse avec tendresse, solidarité et amour.
La lutte de Marielle est aujourd’hui la mienne, et qu’elle soit la votre aussi, dans chaque espace occupé, dans tout ce qu’il est encore possible faire et de réaliser,dans chaque organisation, dans chaque affrontement parce que nous ne serons pas interrompus :
“Les puissants peuvent tuer une, deux ou trois roses, mais jamais ils ne réussiront à empêcher le printemps entier”
Que ce jardin à Paris soit le symbole du printemps, de la révolution qui suit son chemin et qui, ne pourra plus jamais être arrêtée…
Merci Beaucoup
Avec toute ma tendresse
Monica Benicio